MUSIL E O FUTURO

Cheguei ao fim das cerca de duas mil páginas da versão francesa d' O Homem sem Qualidades, de Robert Musil. Surge-me, agora, a mesma pergunta que costuma surgir sempre que termino obras com a importância desta: terei coragem de relê-la num destes dias que me faltam viver? Será possível repetir uma iniciação? Seja como for, acompanhar-me-á no futuro, mesmo quando dela restarem apenas alguns fragmentos, indistinguíveis de tantos outros que se vêm acumulando na memória.
Pareço às vezes um coleccionador, mas desejo apenas conhecer (no sentido mais inteiro da palavra) os alicerces da casa onde habito cultural e espiritualmente. E esses alicerces chamam-se Odisseia, Ilíada, Eneida, Divina Comédia, Em busca do tempo perdido, Metamorfoses, O Homem sem Qualidades, D. Quixote de la Mancha...
Que se seguirá? Vários caminhos se estendem à minha frente: Rayuela, de Cortázar, em tradução portuguesa; 2666, de Bolaño, no original... muitos outros. Qual seguirei? Não sei ainda.

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