translação



mãos (e outros símbolos)
pairam sobre nós criando
formas imperfeitas
que os olhos não conseguem fixar.
círculos de fogo (ou de vento)
sobrepõem-se ao tronco e à cinza
e tentam contrariar o elevador
que desce até ao fundo
atravessando sedimentos, ossos
e outros restos orgânicos.

nenhuma ave
poderia representar a ambivalência
da paisagem. nessa fronteira
entre concreto e abstracto
apenas símbolos e raízes
guardam força suficiente
para resistirem ao terramoto.

é impossível seguir
o movimento das mãos. sopro e metal
transcendem juntos os átomos
e a matéria. no eixo do mundo

preparam sobre os olhos
a outra translação da imagem.

paz e ciência
transmitem à nascente
a direcção do vento.
um nome nos bastaria
para que a pudéssemos alcançar.


("Pás de Vento, Ventos de Paz", esculturas de José Aurélio, 2006)

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