Antologia “Fanal”

MATILDE ROSA ARAÚJO


Sílabas de Silêncio

Dorida mágoa
Mágoa dorida
Fogo da vida
Porque não chorais
Olhos parados
Tão secos de água
De dor molhados.

*

O cheiro morto da vela
Acabada de apagar
E o aroma frio
Dos lençóis de grosso linho
Corado ao Sol
Adormecido o sonho
Na aldeia
Da infância perdida.

*

Cozinha de fumo
No granito da lareira
Casa pobre da minha avó
Os gestos do fogo
Faziam-me tantos sinais
Que eu não entendia
Mas bebia
Fascinada
Gestos vermelhos
No pote negro
E triste.

*

Pote de três pés agudos
E negros
Os troncos de pinho ardiam
Sangue de fogo
De árvores que foram vivas
E eu era criança e não perguntava
Não sabia perguntar
Com um espanto muito branco
Nos olhos meninos.
E quem me respondia?

*

Que me diz sempre teu olhar
Mesmo na morte escondido?
Alfabeto perdido
Do livro que não leio.

*

Cavernas precoces
De olhos enormes
Escorrem silêncios
Meninos sem riso e sem choro
No ventre da guerra.

*

No pátio
O gato ondula
Seu dorso abstracto
Ondula
Sua dúctil melancolia
Radar que espreita
Liberdade bravia
Que não ardeu.

(nº 5, 15/09/2000)

2 comentários:

indah disse...

Tiene razón. La aldea de la infancia perdida es un lugar mágico. Encontrar la entrada, avanzar por lugares vagamente conocidos, reencontrarnos con nosotros mismos. Son tantas las cosas que podemos encontrar allí.

Gracias Ruy. Me ha costado entender a Matilde Araújo, y quizá no he entendido casi nada, pero no importa :)

dama disse...

que boa lembrança