Estátuas (2)

SETÚBAL / PRAÇA DE BOCAGE


Do alto do seu pedestal, Manuel Maria Barbosa du Bocage “olha” para a cidade que o viu nascer. Quiseram pô-lo assim, com os olhos voltados para a igreja de São Julião (esse templo com ar de catedral atarracada, a que o manuelino dos portais confere dignidade) e para o rio Sado, hoje escondido por prédios e avenidas. Quem o fez, não deveria ser grande apreciador da sua poesia... Se a apreciasse, teria gravado na base do monumento um poema seu – e nunca a versalhada de pé quebrado que lá está inscrita.
Comovem-me sempre estas homenagens, sobretudo quando as vejo póstumas. É raro vermos um poeta estatuado em vida, homenageado enquanto vive. (São seres demasiado perigosos, sem papas na língua.) É mais fácil reverenciar a pedra ou o bronze, que não falam nem se mexem, do que um homem vivo, que pode mandar para sítios impróprios -ou esbofetear... - os homenageadores, talvez interesseiros.

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