O MEU AMIGO CLÓVIS

Faz hoje um ano que me morreu um Amigo. Chama-se Clóvis Artur. Era um ser que dava gosto frequentar, com o seu acolhimento sempre caloroso, com a sua companhia que sabia ser silenciosa, com a sua comunicação peculiar, mas eloquente. Ao dono deste amigo especial (Clóvis Artur era o cão de outro amigo, esse humano, Nicolau Saião), aqui fica um abraço forte, de quem partilha as suas saudades. Entretanto, reproduzo aqui o soneto que no dia da sua morte escrevi (eu, que até aí, nunca me expressara em formas fixas...).


[Clóvis Artur]

alimento esta casa e a oliveira
com memória, com sangue – a alegria
que na vossa mão pus em cada dia,
guardando no meu corpo a terra inteira.

junto do fogo – da alma, da lareira –
guardei nos olhos a sabedoria
desses caminhos que bem conhecia,
da clara água fresca da ribeira.

lanço na terra a minha semente
(feita de carne, de ossos, de saudade)
fertilizando tudo, toda a gente.

a raiz trará vento, tempestade –
uma sombra talvez na tarde quente,
voz soando por toda a eternidade.

3 comentários:

Ruy Ventura disse...

Obrigado pelas suas palavras, Cláudia.
Aproveito para informar que a ilustração representa a oliveira junto da qual está sepultado o Clóvis, situada no quintal da Casa da Muralha, em Arronches, futura casa-museu de Nicolau Saião.

Anónimo disse...

Só posso, só sei, agradecer ao Ruy a profunda amizade que dedicou ao querido amiguinho(que durante 13 anos tornou a minha vida mais plena, mais humana) e que está bem patente neste soneto.
Refiro também que nessa ocasião lhe foi doado, igualmente, um belo e comovente poema pela Sandra Costa, o qual bem como este ressoa sempre dentro de mim.

indah disse...

Muy hermoso su soneto. Gracias por compartirlo.