memória

mal oiço o som do alaúde em tua casa.
não consigo ver a pomba
voando sobre a cinza,
no sepulcro da ruína e desta alma.
exumei com os olhos
o mosaico que rodeava, talvez, esse coração –
mergulhado na água e na melodia.

séculos depois, encontro esse rosto
tão cedo escondido.
desenhado no mármore.
como numa fotografia.
esse sorriso escavando a penumbra da nave –

a iluminação das lágrimas
no interior do vidro.

Mérida –
estela funerária de Lutatia Lupata (séc. II d. C.)

2 comentários:

Ruy Ventura disse...

A estela, cuja imagem se reproduz e que foi alavanca deste poema, pertence à colecção do Museu Nacional de Arte Romana, de Mérida.

nuno de matos duarte disse...

Observo esta imagem, reproduzindo um rosto que, pela expressão serena mas ausente na música, imagino ser não um instrumentista mas sim um melómano a escutá-la, e penso: como é bom imaginar a possibilidade de me deleitar a ouvir os sons que aquela pessoa representada em pedra ouviu!