HOMENAGENS E CONDECORAÇÕES

Não julguemos que é coisa de agora. Desde que o Poder é Poder que existem formas públicas de reconhecimento do mérito, da influência sócio-económica, da fidelidade ou da obediência a princípios e/ou chefias. Na Antiguidade colocavam-se anéis nos dedos, no Antigo Regime nobilitava-se, no Liberalismo vendiam-se títulos, na República atribuem-se condecorações honoríficas. A nível local, condecoram-se os cidadãos com medalhas “de mérito municipal”. Há ainda as homenagens, através da toponímia, da estatuária ou de actos públicos simples, com lugar à oferta de uma “lembrança” ao homenageado – medalhas de latão, placas de metal cromado, salvas de prata ou de estanho.
Revistam a forma que revestirem, as condecorações e as homenagens promovidas por instâncias de Poder nunca são inocentes. Se promovem determinados valores, rejeitam outros. Se valorizam o mérito, desvalorizam a mediocridade. Em princípio... Justas ou injustas, merecidas ou imerecidas, louváveis ou repugnantes, as condecorações e as homenagens permitem-nos entender melhor a ética, o civismo e a mentalidade de quem as promove e da época em que foram levadas a efeito. Não nos podemos esquecer de que há homenagens que só servem para alimentar a vaidade e a necessidade de protagonismo de quem as dinamiza. Tenhamos em conta a hipocrisia de certos reconhecimentos públicos que só visam calar vozes incómodas ou enganar a História. Outros há, no entanto, que reparam décadas de injustiça, que perpetuam a memória de seres humanos exemplares, que corporizam a gratidão sincera de uma comunidade a alguém que tudo lhe deu.
Cada caso é um caso... O futuro começa no momento em que a homenagem se concretiza. O futuro julgá-la-á de forma imparcial. Nalguns casos, render-se-á à justiça do acto e à força da sinceridade. Noutros, rejeitará a subserviência do Poder a gente vaidosa e interesseira, a caciques manobradores e impunes. Noutros, revoltar-se-á perante a consagração da mediocridade e/ou da maldade. Nalguns, estranhará a ignorância dos representantes dos cidadãos, que não perceberam (ou não quiseram perceber) os verdadeiros interesses dos promotores das homenagens ou a verdadeira face dos homenageados.
Quando penso na minha região de Portalegre, recordo sempre casos concretos de homenagem que exemplificam muito do que expus: o justíssimo reconhecimento em vida da devoção ao bem comum concretizada pelo dr. Amorim Afonso; a atribuição de uma medalha de mérito a um jornal citadino que será recordado como veículo de graves difamações contra pessoas de bem (oportunamente condenadas pela Justiça); a tardia condecoração atribuída, a título póstumo, ao dr. Manuel Inácio Pestana, historiador que teria merecido esta homenagem em vida.
Nesta matéria, recordo ainda o meu caso. Vários meses depois de ter recebido o Prémio Revelação, da Associação Portuguesa de Escritores, entendeu a Junta das Carreiras aproveitar uma sessão pública para aí manifestar o seu “reconhecimento” pela minha actividade literária, pelo meu trabalho em prol do estudo da História e da Cultura da freguesia e, até, pelas minhas críticas e sugestões. Lá recebi uma salva de prata, usando da boa-fé que costuma existir em sociedades civilizadas... Hoje olho para ela com sentimentos contraditórios. É que este acto público – que eu julgara sincero – não impediu que, passados poucos meses, o presidente da Junta me enxovalhasse num jornal, afirmando – entre outros dislates - que eu desconhecia a realidade da freguesia, nem coibiu o mesmo edil de, daí em diante, quase sempre me ostracizar e marginalizar na minha terra sempre que se realizaram acções culturais. Ainda há poucas semanas assim foi... Soubesse eu o que sei hoje...

4 comentários:

Anónimo disse...

Inteiramente verdade! E ainda o Ruy não disse tudo, em referência a este prócere ou a outros. Mas talvez isso venha a lume a seu tempo. Aguardemos...

indah disse...

Aunque, desgraciadamente me he perdido en algunos momentos, me ha parecido una reflexión muy interesante.

Gracias

Anónimo disse...

Y tu que crées, tío? Soy de Badajoz y conozco a Ventura. Esto és asi de verdad, que lo mayor de Portoalegre és un gran oportunista, dícen, otros lo tienen como un pequeño dictator y mismo los que lo dicen buen hombre no se guardan de lo garantizar como arrivista e sin gran personalidad.
No lo conozco, no opino. Pero me llegan feedbacks.

Ruy Ventura disse...

De facto, muito mais haveria a dizer. Mas ficará para outras oportunidades. O que aqui apresento é suficiente para avaliar um certo ambiente.