J. O. TRAVANCA-RÊGO

Recentemente, a Junta de Freguesia de Vila Boim (Elvas), terra natal de J. O. Travanca-Rêgo, resolveu atribuir à biblioteca local o nome do poeta, falecido há cerca de dois anos. Foi uma homenagem significativa que ficará para o futuro. Em finais deste ano, a revista Callipole, de Vila Viçosa, vai editar um bloco de textos em sua memória, com textos de João Rui de Sousa, Nicolau Saião, Levi Condinho, Amadeu Baptista, Fernando Guerreiro, Nuno Rebocho, José do Carmo Francisco, Orlando Neves (a título póstumo), João Candeias, etc.. Aí sairá também este poema, que escrevi como evocação/invocação do companheiro de Letras:

o rosto dissolve a porta,
o tronco da oliveira.
palavras sem sombra
iluminam o calor da morte,
lançando cinza
sobre as águas do baptismo.

o verbo rega
a secura da planície.
filamentos de luz
acompanham ruínas
de uma cidade sem erva.

o sangue arrefece.
um fio de sangue
conduz as palavras,
enterrando a raiz
até ao centro da mina.

o magma acolhe
essa mão que escreve.
(o mármore fragmenta, nestes olhos,
o vento e a fortaleza.)

o sal conserva -
essa carne sem sombra.
a oliveira rebenta.
a raiz descobre-nos

no calor da morte.

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